Programa infantil chileno filma no Rio, numa co-produção Chile-Brasil-Espanha (almanaquevirtual.uol.com.br)

Programa infantil chileno filma no Rio, numa co-produção Chile-Brasil-Espanha

Por Rodrigo Alvarado

Fotos Álvaro Riveros

29/01/2007

Tulio Triviño, famoso apresentador do telejornal “31 minutos” dirige seu Mercedes Benz pelas ruas de Santa Teresa. Ele e sua equipe estão atrás do leal Juanin Juan Harry, produtor do programa, seqüestrado por uma malvada colecionadora de animais. Desesperado, Túlio procura pistas incansavelmente com a esperança de encontrar seu fiel produtor e amigo. Se você achar esta sinopse um tanto estranha, talvez ficará mais curioso ainda quando souber que todos estes personagens são bonecos. E ainda por cima, falam espanhol.

Na verdade, se trata do filme 31 minutos, de Pedro Peirano e Álvaro Diaz, baseado no famoso programa infantil de televisão chileno, que passa aqui no Brasil através do canal Nickelodeon. O trabalho é uma co-produção Chile-Brasil-Espanha, e o sócio brasileiro é a produtora Total Filmes, responsável por sucessos como “Sexo, Amor e Traição”, de Jorge Fernando, “Avassaladoras”, de Mara Mourão, e “Se Eu Fosse Você”, de Daniel Filho. Após o sucesso do programa no Chile, que rendeu já três temporadas do programa e dois discos de músicas originais, os produtores decidiram realizar um filme com os personagens da série. A Total então foi contatada pela Aplaplac Produções, responsáveis pelo programa e o filme: “Nós já conhecíamos o programa, e quando recebemos a proposta de participar do projeto ficamos muito interessados e começamos um trabalho forte para poder atualizar o acordo de co-produção entre o Brasil e o Chile na Ancine, e este projeto é o primeiro beneficiário com a nova legislação”, conta Marcos Didonet, um dos sócios da Total. “O Chile tem uma produção bem menor que o Brasil, mas seus filmes se caracterizam pela alta qualidade de produção, e sempre quisemos trabalhar em algum projeto que envolvesse trabalhar com eles”, acrescenta. Co-produções entre Chile e Brasil não é uma completa novidade, mas estas se restringiam ao contrato de serviços como a edição de som, ou uso de laboratórios. Desta vez a cooperação foi bem desde o inicio. “Tínhamos o interesse de trabalhar com o Brasil por vários motivos, primeiro pelas locações que o filme precisava, e pelo talento que existe em diversas áreas da produção”, explica um dos diretores, Álvaro Diaz. Aproximadamente 25% do filme está sendo filmado aqui no Brasil; porém, não necessariamente a história se passa no Rio. “Filmamos aqui no Brasil por certas características especificas dos lugares mais do que por ser Brasil. Assim como as cenas filmadas no Chile não necessariamente se passam no Chile, o Brasil não é o Brasil”, conta Pedro Peirano, co-diretor do filme.

Com os anos, tem sido mais comum ver co-produções entre países latino-americanos, especialmente entre os países de língua espanhola; mas o Brasil tem se mantido fora desta tendência, preferindo parcerias com países da Europa ou E.E.U.U. Agora, já há exemplos de produtores brasileiros procurando parceiros latinos. Já tivemos no Festival do Rio o longa “Só Deus Sabe”, de Carlos Bolado, uma co-produção Brasil-México, por exemplo. No que diz respeito à Total, este tipo de parcerias só deve aumentar. “Temos dois projetos que são co-produções internacionais: ‘Guardiões do Samba’ com o Japão e a França, e com a Espanha estamos trabalhando no próximo filme de Carlos Saura”, adianta Iafa Britz, outra das sócias da Total. A idéia é expandir os horizontes dos filmes, ajudando que estes tenham mais visibilidade em mercados mais competitivos, além da cooperação artística que envolve um empreendimento como este.

O Programa

O programa de televisão nasceu em 2003 quando seus diretores ganharam um edital do governo para programas de tv infantil do Conselho de Televisão do Chile. A premissa era simples: um telejornal com seu âncora e estrela (Túlio Triviño) junto com outros jornalistas de diversas áreas. Juan Carlos Bodoque, outro dos protagonistas, apresenta matérias de tipo ecológico, por exemplo; Balon Von Bola apresenta a seção de esportes, e Policarpo Avendaño é o critico de espetáculos, que também mostra os clipes musicais mais votados da semana, com artistas e músicas bastante peculiares. Mas o programa mostra também o lado por trás das câmeras do telejornal e como estes personagens interagem entre si. Este parece ser o grande achado dos diretores, pois 31 minutos vai muito além de ser um telejornal infantil, sendo também um show com personagens bem construídos e onde a amizade é o principal tema. “Sempre tivemos como foco do programa a amizade que existe entre estes personagens que, às vezes, são irritantes ou muito diferentes entre si, mas que apesar de tudo são amigos”, ressalta Álvaro Diaz. “Isso cria um nexo com as crianças ao meu ver, pois quando você é criança, você faz amigos mais circunstancialmente, às vezes você é só amigo de um cara porque ele mora na frente de tua casa”, conclui Peirano. Se essa é a razão do sucesso ou não, o fato é que assim que estreou, “31 minutos” começou a ser tema de discussão não só de crianças mas também (ou quase mais) de adultos. O interesse foi tanto que o programa, que inicialmente era transmitido aos sábados de manhã, foi colocado no horário nobre do canal mais visto do Chile, TVN, nas sextas, com altos níveis de audiência. Logo saiu um disco, com as músicas do programa, também com altos números de venda. Rapidamente, o canal de televisão assinou contrato por mais temporadas e mais um disco foi lançado. Depois disso, o caminho óbvio era expandir as fronteiras do país. O programa foi comprado pelo canal de tv a cabo Nickelodeon, ampliando assim seu público a toda América latina, Brasil incluído.

Segundo Peirano, o programa tem se dado bem fora do público chileno, “Além do Chile temos uma audiência muito boa nos países de América Central, e no México recentemente, o programa está sendo transmitido por um canal de rede aberta, ao contrário dos outros países que se restringe à tv a cabo”. Isso é precisamente o que a Total junto com a Aplaplac (produtora responsável pelo programa) estão tentando atingir aqui no Brasil. Para Didonet, um passo importante para preparar a chegada do filme aos cinemas brasileiros é conseguir que o programa seja transmitido na Tv aberta: “estamos conversando com um canal em específico, que não posso revelar, mas as negociações estão bem avançadas”. Depois do Brasil, a produção vai para Espanha para editar e finalizar o filme, mas os diretores não vão embora sem antes elogiar o Brasil de várias formas. Álvaro Diaz está encantado com a cidade: “Além da beleza natural do Rio e seus arredores, que é sempre um prazer admirar, estamos muito felizes com a equipe técnica e a produção; ninguém somente ‘faz o trabalho’, todos tentam ajudar o máximo possível para que tudo saia bem com o filme”. Pedro Peirano é outro entusiasta: “Percebe-se que aqui o trabalho com cinema tem uma tradição de vários anos, há pouco espaço para o amadorismo”. 

Os planos para o futuro são um pouco incertos. Peirano e Diaz evitam responder quando perguntados se o programa continuará depois do filme e preferem dizer que nem eles mesmos sabem o que acontecerá. “Por enquanto, preferimos focar toda nossa atenção ao filme, temos outros projetos, inclusive escrevemos um roteiro, mas por enquanto nossa preocupação está toda com o ’31 minutos’”.

Enquanto o filme não chega, é possível assistir ao programa no canal Nickelodeon ou acessar o site (www.31minutos.cl). Ali se pode conhecer os personagens, assistir alguns dos bizarros clipes musicais ou pequenos trechos do show. Vale a pena conferir e ver por que o programa tem tanto sucesso e conseguido ganhar vários prêmios internacionais de programação infantil. Sem dúvida, um show que diverte crianças e adultos, como todo bom programa faz.